AT&T não tem interesse na Oi, ela quer disputar o mercado audiovisual brasileiro

A pressão para a aprovação do PLC 79, que estava quase esquecido pelos aliados do governo no Senado Federal, se terá o aplauso imediato do maior investidor europeu no país, a Telefônica, e da própria Oi, deverá ser indiferente para a AT&T. Diferentes interlocutores afirmaram que a operadora, dona da Sky, quer ingressar com força no mercado audiovisual brasileiro e fugir do ônus da infraestrutura.

*com Rafael Bucco e Abnor Gondim

Mais um canto da sereia? Ou interesse concreto da maior operadora do mundo em ampliar suas operações no Brasil? As notícias nos jornais estampando o presidente da AT&T, Randall Stephenson, ao  lado de um sorridente Jair Bolsonaro apontam para a segunda opção. Mas ainda é muito cedo para acreditar nela.

O certo mesmo é que a pressão pela aprovação do PLC 79 será aplaudida por três concessionários brasileiros: a Telefônica, a Oi e a Algar Telecom e uma operadora de celular, a TIM. A Claro, embora tenha a Embratel como concessionária, aponta que o projeto não lhe atende ao ritmo atual de tramitação e a TIM quer a liberação das frequências.

Embora a teoria da fusão ideológica entre os governos de extrema direita do Brasil e dos Estados Unidos  faça sentido para um interesse da AT&T pela Oi, o que impediria o avanço das “forças chinesas” sobre a Oi, fontes de diferentes matizes năo concordam com essa visão.

A AT&T não parece nem um pouco interessada em adquirir infraestrutura em território brasileiro. Vale lembrar que a Oi é forte compradora da Huawei, que o Trump quer banir do planeta. E o Banco Central da China um de seus grandes credores.

Diferentes analistas do setor lembraram ao portal que a AT&T nunca se interessou seriamente pelo Brasil. Já prometeu vir para cá muitas vezes, mas, ao se deparar com nossas regras setoriais (concessão, licitação de frequência, controle de preço e de ofertas para o consumidor) desistia, por entender que eram pesadas demais.

A AT&T só está no Brasil porque ganhou a Sky no pacote de compra da operadora de TV paga via satélite, Direct TV.

Com a celeuma sobre a Lei do SeAC, que impede que operadora de telecomunicações seja dona ou invista em programas de TV ou de cinema, a pressão sobre  a Anatel  foi aumentando à medida em que a família Bolsonaro foi se aproximando da família Trump.

O Brasil é o único país do mundo que ainda não julgou a operação – de US$ 85 bilhões – e que foi aprovada pelas agências norte-americanas em junho de 2018, após quase três  anos analisando o caso.  

O relator da matéria na Anatel, conselheiro Vicente Aquino  defendeu a posição  de que essa operação deveria também ser aprovada pela agência brasileira, porque a sede dos estúdios Warner fica nos Estados Unidos, e, portanto, não poderia ser abarcada pela proibição da lei brasileira.

Diferentes dirigentes da Anatel foram  recebidos pelo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, P. Michael McKinley. No cardápio, só SeAC, nada de PLC 79, que é crucial para a Oi se tornar mais interessante para algum investidor. 

O conselho diretor da Anatel acabou não tomando decisão sobre a polêmica porque o conselheiro  Moises Moreira pediu vistas do processo. Segundo fontes da agência, Moreira estuda o parecer de Aquino, e já teria elencado inúmeras questões para a sua equipe estudar, o que significa que não irá apresentar  o seu voto na próxima reunião do conselho, marcada para o início de setembro. Moreira, por sinal, também foi abordado por porta-vozes estadunidenses e chegou a visitar a sede da AT&T, em Dallas, nos Estados Unidos. Mas não se acanhou em paralisar o processo.

Diferentes interlocutores, do governo e fora dele, afirmam que a AT&T não quer comprar a Oi ou qualquer infraestrutura no Brasil. Quer é entrar no mundo do imaginário, do charmoso, do leve, do esplendoroso. No mundo dos radiodifusores nacionais. No mundo do conteúdo audiovisual. No mundo da TV Globo.

E a razão para isso é econômica,  não tem nada a ver com o ideologia. Ela é a maior operadora privada do planeta, e presta contas somente a seus acionistas.

No México, lembram  interlocutores,  a AT&T precisou de pouco mais de três anos para começar a ter o retorno de seu capital. No Brasil, essa conta supera os sete anos. Números de arrepiar qualquer empresa norte-americana.

Além disso, argumentam outros analistas, ela está muito “alavancada”, ou, muito endividada. E o Brasil teria muito pouca sinergia para a empresa justificar outro movimento de aquisição, depois de US$ 85 bilhões oferecidos pelos estúdios Warner.

PLC 79

O presidente da AT&T, Randall Stephenson, veio ao Brasil para avisar que compraria a Oi? Raramente um comprador diz ao respeitável público que vai comprar um ativo, sob o risco de encarecê-lo, o que está exatamente acontecendo com as ações da Oi.

O mais provável é que  fontes do próprio governo divulgaram essa versão. Afinal, a situação econômica da  Oi continua a tirar o sono de muitos. E, como havia mesmo muita resistência dentro da própria base de apoio do governo para fazer tramitar o PLC 79, nada como encontrar uma boa razão para acabar com as resistências: investimentos novos, de empresas do “país-amigo”.

Há também uma outra razão para o PLC79 receber agora a atenção do governo. E essa razão chama-se o filho que quer ser embaixador. Comenta-se que o senador Ciro Nogueira, do Progressitas do Piauí, é a peça-chave para a aprovação dessa indicação e que todos os projetos de seu interesse estariam caminhando, inclusive o PLC 79.

E com a palavra, um acionista controlador da Oi:

“para todos os cenários de desenvolvimento da Oi, o fator mais relevante é a aprovação do PLC 79. Muito se fala sobre a sua venda. O que não existe são propostas a serem analisadas”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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