Anatel vai acelerar destinação do 6 GHz para o WiFi outdoor e se livrar da pressão do celular

Carlos Baigorri, presidente da Anatel, disse que Brasil quer liberar todo o espectro de 1.200 MHz na faixa de 6 GHZ para o uso outdorr do WiFi antes mesmo dos Estados Unidos.
Anatel quer acelerar 6GHz para Wifi outdoor
Baigorri quer o Brasil como o primeiro do mundo adotando essa tecnologia. Crédito: MCOM/Flickr

Barcelona- O Brasil deverá ser o primeiro país a adotar o WiFi outdoor em 6 GHz. O presidente da Anatel, Carlos Baigorri, disse hoje, 28, que a agência pretende acelerar a decisão sobre a liberação do uso do WiFi 6E (que ocupa toda a frequência de 6.000 MHz) para as áreas externas (outdoor), de forma a fazer com que o Brasil seja o primeiro país do mundo, antes mesmo dos Estados Unidos, a ocupar toda essa faixa  com serviços não licenciados. Segundo ele, a intenção é lançar a consulta pública este semestre, para no início do próximo adotar a medida.

Embora o presidente fale em “consulta pública” ele disse aos jornalistas presentes ao Mobile World Congress (MWC) que a decisão da Anatel será mesmo pela liberação dessa tecnologia também para a implementação do WiFi em áreas externas (outdoor). Até o momento, a Anatel só liberou essa tecnologia para o uso indoor,  para ser instalada como um modem nas casas das pessoas ou prédios empresariais. Mas os provedores de internet e alguns fabricantes, como a Qualcomm, por exemplo, reivindicam a ocupação dessa frequência também em áreas externas.

Ecossistema do celular é contra

As operadoras de celular e toda a indústria que fornece para elas, que se congregam na GSMA, afirmam, por sua vez, que em breve precisarão de espectro mais baixo para poder suportar toda a demanda por dados que está sendo criada pelas tecnologias de realidade aumentada, realidade virtual vídeos de 4K e 8K.

A reivindicação pela banda de 6 MHz para a telefonia celular , e não para o WiFi outdoor, foi apresentada já no primeiro dia do evento de Barcelona, pela voz do diretor-geral da GSMA, Mats Granryd, que chegou a afirmar: “Espectro é vital para a indústria de celular. E a faixa de 6 GHz é crucial para a expansão do 5G”. Ele apontou para o grande embate que ocorrerá na próxima reunião da União Internacional de Telecomunicações (UIT)  que definirá a destinação de várias frequências, inclusive a do 6 GHz, e que acontecerá no final deste ano (entre novembro e dezembro) e que o setor de telefonia celular estará bastante atuante.

A WRC, ou Conferência Mundial de Radiocomunicação, é realizada a cada quatro anos, o mais importante fórum de discussão da entidade, quando são decididos para que serviços de telecomunicações devem ser alocados as diferentes, mas limitadas frequências. E nesse fórum, são realizadas não apenas disputas entre os fabricantes de tecnologias, como também disputars entre países e blocos econômicos.

A Anatel decidiu destinar o 6 GHz para o Wifi no ano passado, acompanhando, assim, a opção dos Estados Unidos, mas continua sob intensa pressão da indústria de telefonia móvel. Entre as razões apresentadas por essas empresas está o fato de que a agência está destinando uma enorme quantidade de banda (1.200 MHz)  para um serviço que será usado dentro das residências, um desperdício. Além disso, alega-se que no Brasil não há qualquer demonstração de interesse pelo uso desse equipamento. Até porque, ele é muito caro para o consumo do usuário final.

É por isso que começou a pressão pela liberação  desse equipamento também nas áreas externas. O problema técnico que existe, contudo, é que para ser usado externamente, esses modens Wifi não poderão interferir nos milhares de sistemas de interconexão dos serviços fixos, que têm prioridade na ocupação dessa frequência.

Os operadores regionais alegam, no entanto, que, somente com a liberação do uso outdoor é que haverá demanda efetiva pelo equipamento, pois ele poderá servir de hub para a expansão em diferentes localidades onde a fibra óptica não pode chegar. “Será uma ótima opção para os provedores avançarem com a banda larga”, afirmou Basílio Peres, diretor da Abrint, que também circula pelo evento catalão.

Celular

As operadoras de celular brasileiras estão, no entanto, avaliando esse cenário, e preocupadas com uma decisão precipitada sobre o tema. Isso porque, a tecnologia 5G FWA, que poderia ser uma alternativa para elas, operadoras de celular, prestarem serviços de banda larga fixa em áreas remotas, ainda tem o alto preço do equipamento, impeditivo para usa implementação. Veem a frequência de 6 GHz  como uma alternativa para a expansão dos serviços móveis.

A Claro, por exemplo, que também está com a comitiva de seus principais executivos em Barcelona, vai criar um grupo técnico para estudar a fundo o 6 GHz,  disse José Félix, presidente do grupo.

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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