Anatel acompanha, mas não quer vínculo com os novos testes de interferência da 5G

O CPqD vai iniciar testes de campo para confirmar se os filtros a serem instalados nos equipamentos das TVs por parabólica conseguem evitar a interferência da 5G. Leonardo de Morais, presidente da Anatel, quer os técnicos da agência participando como observadores.

O Sinditelebrasil (entidade que congrega as maiores operadoras de telecomunicações)  resolveu dar início aos testes de campo para apurar se a nova geração de filtros conseguirá evitar a interferência da tecnologia 5G nos serviços de TV aberta por parabólica (TVRO) na frequência de 3,5 GHz. Os testes de laboratório realizados no ano passado conseguiram comprovar que essa nova geração de equipamentos é capaz de mitigar as interferências, conforme relatou o CPqD, centro de pesquisa que está realizando os testes.

Para essa segunda fase de testes, o Sindi pediu a participação da Anatel, visto que é a agência, em última instância, que deverá dar a palavra final sobre como será solucionado esse entrave, para que o leilão da 5G ocorra. O presidente da Anatel, Leonardo de Morais, em ofício  às áreas técnicas, concorda em participar dessa nova fase, mas disse  que os técnicos que participarem devem ser vistos exclusivamente na qualidade de ” colaboradores observadores”.

Isso porque, enfatizou Morais em seu ofício, o Comitê de Órbita e Espectro da agência, o qual preside, realizou seus próprios testes, cujo resultado foi divulgado em julho do ano passado, contando com a participação de diferentes stakeholders, como os radiodifusores, a indústria, os operadores de satélite além das operadoras de celular.

Para Morais, a participação dos técnicos da Anatel nessa nova rodada não ” significa, em qualquer hipótese, endosso ou vinculação incondicional aos resultados e conclusões eventualmente obtidos nesses experimentos”.

Sugere ainda que todos os grupos que trabalharam no Comitê para a realizados dos testes promovidos pela Anatel também sejam convidados para participar dessa nova etapa.

O que se discute

Um pedaço do espectro de 3,5 GHz – que foi escolhido pela UIT e adotado em todo o mundo para receber a tecnologia de quinta geração – é ocupado aqui no Brasil pela TVRO. E é uma ocupação quase “clandestina”, pois não é um serviço de TV nem de telecomunicações sob a ótica regulatória e, por isso, ocupa essa faixa em caráter secundário, sem proteção. Acontece que há milhões de telespectadores (quantos são, na verdade, ninguém sabe com precisão) que assistem aos canais de TV abertos via satélite e não poderiam ficar sem esse serviço.

Quando essa frequências for vendida para as operadoras de celular, o serviço móvel acabará impedindo que os sinais de TVRO sejam captados, porque o sinal de satélite é bem mais fraco, se nada for feito. Por isso, busca-se uma solução para o problema, que só ocorre no Brasil.

Os radiodifusores reivindicam que os serviços de TV por parabólica migrem para uma outra frequência de satélite, conhecida como banda Ku. Só que as operadoras de celular é que vão pagar a conta, e argumentam que essa migração irá custar entre R$ 7 R$ 9 bilhões – dependendo do interlocutor.

As operadoras de celular querem, então, colocar filtros nos equipamentos receptores das TVs, pois a conta ficará muito mais barata. Mas os primeiros filtros testados não resolviam o problema. Novas tecnologias e diferentes fabricantes foram consultados e os testes refeitos, que confirmaram a eficiência para barrar a interferência.

Além dos testes, as operadoras de celular ainda sugeriram uma nova  abordagem, que poderá repassar mais 100 MHz para a 3,5 GHz, mas essa nova abordagem tem a reação dos demais operadores de satélite.

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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