Alexandre Moshe: Alloha Fibra volta a comprar ISP em 2023
A Alloha Fibra, holding que congrega três polos de atuação no mercado de banda larga fixa e já é a quarta maior operadora de SCM do país, fechou o primeiro semestre do ano com 1,3 milhão de clientes. Criada há um ano, a Alloha congrega as operações adquiridas pelo fundo de private equity EB Capital a partir de 2018, em atuações bem agressivas no mercado.
Dirigido por Alexandre Moshe, o grupo vai crescer 25% em base de assinantes este ano, mas teve uma atuação diferenciada em 2022, quando optou por buscar apenas o crescimento orgânico. ” Precisávamos amadurecer e integrar as empresas”, afirma o executivo.
Com uma rede de backbone de mais de 70 mil quilômetros e de fibra de 110 mil quilômetros presentes em 650 municípios brasileiros, a empresa se prepara para disputar mais fortemente o mercado B2B, sem se esquecer do usuário final. E avisa que, em 2023, os planos são de continuar a crescer, mas um crescimento “orgânico e inorgânico”. Ou seja, vai voltar a adquirir provedores de internet.
Leia aqui os principais trechos da entrevista:
Como está organizada a holding nos dias atuais?
Alexandre Moshe – A primeira aquisição da EB Capital em 2018, foi a da Sumicity, que tem origem no interior do Rio de Janeiro e alguns outros estados. A partir do ingresso do fundo no setor, a segunda aquisição foi a da Mob Telecom, com origem em Fortaleza e presente em outros estados da região Nordeste, em 2019. Com o crescimento orgânico e a aquisição da Mob, somamos 600 mil clientes.
Aí houve uma captação no mercado, não?
Moshe – Sim, o fundo EB captou R$ 1,5 bilhão e passou-se a ter uma atuação significativa em 2020 e 2021, com uma série de aquisições e que culmina no que é hoje a constituição da holding Alloha Fibra, criada há um ano e que tem atualmente três polos de atuação. Um polo no Nordeste, que tem como origens a Mob Telecom e a Wirelink, que hoje é Mob Wire, que atua no Nordeste nos mercados de B2C e B2B. O segundo polo, é o polo Sumicity, que ainda integram as operadoras Click e a Univox, as duas com atuação em Minas Gerais. O terceiro polo, da Vip Telecom, em São Paulo, (que cobre a região de Mauá e Vale do Paraíba) e ainda inclui a Ligue, do Paraná, e a Niu , no Litoral sul de São Paulo.
Somando tudo, onde estão presentes?
Moshe – Temos uma rede que passa por 650 municípios e mais de 110 mil quilômetros de rede de fibra óptica, dos quais o backbone soma 75 mil quilômetros. No mercado de B2B temos 3,7 mil clientes nos segmentos de provedores regionais, operadoras, governo e cliente corporativo. No segmento de B2C estamos presentes com FTTH em cerca de 280 municípios entre os polos. No primeiro semestre, somamos um milhão e 300 mil clientes.
Um número importante de clientes, mas este ano vocês mudaram a atuação, não?
Moshe – Em 22, tomamos a decisão de ir atrás de um crescimento relevante, mas fundamentalmente orgânico. Porque isso faria com que a gente continuasse expandindo a nossa base de clientes, e nossa posição, e isso se confirma, porque crescemos em várias localidades. Mas também o crescimento orgânico faz com que a gente mire para os processos e trabalhos internos, para amadurecer e dar mais robustez ao projeto. Foi isso o que fizemos. E estimamos fechar o ano com crescimento de 25% da base em relação a 2021. A receita também cresce em dimensões parecidas.
De que forma o anúncio de que o fundo EB está procurando novo sócio interfere na atuação de vocês? A tendência é também se tornar um operador de rede neutra?
Moshe – A Alloha tem três ativos: o segmento B2C, o B2b e a rede. E, do ponto de vista do EB, que é um fundo de private equity, é natural que olhe para o mercado tente apurar o valor que eles tem em mãos. É isso é o que acontece no processo. Em paralelo, nós, na Alloha seguimos o trabalho de amadurecer a integração das empresas e olhar para 23 buscando mais crescimento.
Para 23, vão continuar apenas com o crescimento orgânico?
Moshe – Não. Pretendemos balancear entre o crescimento orgânico e inorgânico.
O foco de atuação continua sendo cidades menores?
Moshe – Nós temos atuação em algumas capitais, mas a gente sempre busca áreas periféricas, mesmo nas capitais. E esse DNA vai continuar. A nossa expansão orgânica sempre é feita a partir da atuação do operador local, que apresenta a proposta de ampliação da rede. A ampliação vem muito mais da ponta.
Como você avalia o movimento das redes neutras? Elas vieram para ficar?
Moshe – Eu gosto do modelo, pois no momento em que a gente escolhe uma área para expandir, pode ter a oportunidade de usar uma rede que já está lá, pois a demanda de investimento é muito grande. Mas o grande desafio dos modelos atuais é que as redes neutras têm um cliente âncora muito grande.
E, como tendência para o futuro, a aposta continua a ser nas fibras ópticas?
Moshe – A fibra óptica possui atualmente 60% de participação do usuário, e acreditamos que essa participação vá aumentar. Não temos dúvida de que o acesso à fibra ótica é a tecnologia que continuará a predominar. Isso porque, seja no B2B ou no B2C, mesmo sem haver o aumento no número de usuários, haverá aumento significativo em necessidade de conexão devido as diferentes habilidades que estão chegando, como streaming, apps diferenciadas, etc. Outra tendência é que o 5G precisará de muito backbone de fibra óptica. E a gente tem esse insumo. Continuamos apostando na tecnologia que acreditamos que ela é vencedora. E, quando olhamos para o mercado consumidor, as empresas terão que se diferenciar no serviço. Essa diferenciação passa por fazer muito bem o serviço de conexão, pois a experiência do cliente pra valer é o que vai fazer a diferenciação.
Mas essa fórmula, todos dizem atender ou estar preocupados…
Moshe – A Alloha tem outro diferencial, que é a de olhar para o Brasil de forma regional. Não olhamos para o país como um único. As oportunidades são vistas no município, na localidade. Uma de nossas vantagens competitivas é manter essa visão local, que veio dos empreendedores iniciais.
O compartilhamento de poste já é uma pauta para a Alloha?
Moshe – Essa é uma questão que nos preocupa bastante, não só pela segurança, mas também para garantir a competição. Grande parte dos pequenos e médios municípios desse país têm internet de altíssima qualidade devido ao fornecimento desses pequenos provedores. Temos que achar uma solução que privilegie os serviços para os clientes. O debate tem que acontecer.