Alerta: a 5G pode se fragmentar

Guerra comercial entre Estados Unidos e China pode reabrir disputa por diferentes padrões para redes nos próximos anos. Brasil precisa se preparar.

Los Angeles* – O término da MWC de Los Angeles, que, segundo os organizadores, contou com a presença de 22 mil participantes de 100 diferentes países, deixou um alerta para o setor, países, consumidores e desenvolvedores de tecnologia: a 5G pode se fragmentar.

O risco foi apontado pelo chairman da GSMA, Stéphane Richard, logo na abertura do evento. “Há o risco de se perder a confiança na cadeia de valor de fornecimento da indústria”, disse ele.

Em sua avaliação a indústria de TIC e de telefonia móvel em particular conseguiram, nos últimos anos, manter os padrões tecnológicos da 3G, 4G e 5G com a competição global em todos os níveis – de chips a devices. Mas a economia de escala está sendo ameaçada pela fragmentação. Ele não disse, mas essa fragmentação pode estilhaçar a internet e levar ao isolamento digital entre países.

Obviamente, o chairman da entidade que congrega todos os fabricantes e operadoras de telefonia móvel do planeta estava se referindo à disputa comercial Estados Unidos e China.

E há mesmo o risco de se criarem, a partir de agora, novos padrões para a 5G e suas sucessoras. As restrições ao acesso a chips fabricados na China parece ser uma nova tendência, além da disputa explícita do governo norte-americano com a fabricante Huawei, que por sinal já está presente em mais de um terço das redes das operadoras de telecomunicações do mundo.

Analistas presentes ao evento entendem, por exemplo, que a virtualização da rede de telecomunicações vai ser a principal aposta dos Estados Unidos para recuperar o tempo perdido no setor de infraestrutura de telecomunicações e, por isso, criará barreiras para desacelerar a China.

Os padrões

Embora o chairman da GSMA tenha dito que a indústria móvel conseguiu atingir os números tão portentosos (mais de 7 bilhões de usuários, mais de US$ 2,3 trilhões de investimentos em 20 anos)  devido à padronização de sua tecnologia, não é bem assim. Quem é do setor se lembra da disputa entre os padrões TDMA, CDMA, depois, o ingresso do padrão GSM, que acabou prevalecendo por ser mais barato.

Ricardo Tavares, da consultoria TechPolis, assinala que a padronização do celular se consolidou com a 4G, quando, em sua avaliação, o setor decidiu fortalecer a 3GPP, uma associação público privada que envolveu empresas de todo o mundo. Essa associação criou o padrão 4G, adotado pela UIT (União Internacional de  Telecomunicações) e passou a criar também todos os releases (ou versões) da 5G.

Tavares assinala que os Estados Unidos já estão questionando essa associação. E citou o dirigente da FCC, Michael O’Reilly, que falando na Cúpula do Brooklyn 5G em abril passado, acusou a indústria chinesa de tentar “usar organizações internacionais de múltiplas partes interessadas para distorcer os padrões a seu favor”.

O Brasil

Guerra de padrões encarecem todos os produtos, para todos. Esse é o primeiro impacto concreto de uma fragmentação nessa indústria. Para países consumidores de tecnologia, como o Brasil, essa pode ser uma péssima notícia, até porque a nossa balança comercial setorial é bilhões de dólares desfavorável a nós.

E aí é que nos faz pensar. Por que não podemos estar no grupo que desenvolve tecnologia e disputa por seus padrões?

*A jornalista viajou a convite do MWC

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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