Ainda muito fechado, setor de IoT vive era da “intranet das coisas”
Ainda que muitas aplicações estejam sendo desenvolvidas, o mercado de Internet das Coisas (IoT) tem mantido uma característica que tende a prejudicá-lo: a impossibilidade de equipamentos “conversarem” entre si independentemente de suas marcas. Na prática, atualmente, para ter um ambiente plenamente conectado, o consumidor tem que adquirir dispositivos, eletrodomésticos e eletrônicos de uma mesma empresa, o que não agrada a maioria das pessoas.
Dessa forma, segundo o diretor de Inovação da Datora Arqia, Daniel Fuchs, ainda estamos em uma etapa de “intranet das coisas”, na qual as empresas desenvolvem soluções de IoT que não podem se comunicar com equipamentos de concorrentes, comprometendo substancialmente o propósito de integração de dados.
“O usuário não quer comprar tudo da mesma marca. Ele quer que a TV se comunique com a geladeira”, afirmou, nesta quinta-feira, 27, durante painel do evento IoT e Redes Privativas, realizado pelo Tele.Síntese. “Enquanto as marcas não entrarem em acordo, não teremos uma IoT plena”, acrescentou.
Nesse sentido, Fuchs defende que as empresas de conectividade, hardware e aplicações de IoT revejam o atual bloqueio à interoperabilidade dos dispositivos. “Acho que esse é o ponto que estamos em IoT hoje. Vai ser uma virada se as empresas entenderem a importância da interoperabilidade com o objetivo de beneficiar o usuário. Estamos nessa encruzilhada”, avaliou.
O executivo ainda destacou que “falta padronização para troca de dados”. Ele exemplificou essa situação citando que, quando se desenvolve uma aplicação para abrir a porta de um carro, os desenvolvedores precisam otimizar a solução, grosso modo, para todas as montadoras e modelos de automóveis, em vez de utilizar um único padrão para todos os veículos.
“Sabemos que é muito difícil chegar a isso [ter um sistema interoperável]. Na verdade, falta hoje no mundo uma biblioteca das coisas, para que todas as coisas [conectadas] fossem chamadas pelos mesmos nomes”, pontuou o diretor da Datora.
Além disso, na avaliação de Fuchs, o mercado poderia evoluir caso as empresas proprietárias de patentes e as fabricantes de hardware se aproximassem, o que poderia viabilizar o fornecimento de dispositivos mais eficientes.
“Já vi projetos de IoT para coleira de cachorro. No entanto, há o problema de consumo de energia do dispositivo. O dono não quer carregar a coleira todo dia, ele esquece. Então, já vi várias startups fracassarem nisso porque não souberam equacionar o uso da energia”, relatou.
Tecnologia como negócio
De acordo com o executivo líder em Telecomunicações do Gartner Brasil, Marcus Pinheiro, os agentes que integram o ecossistema de conectividade ainda se falam pouco e carecem de compreensão sobre os reais serviços que a IoT pode entregar para diversas indústrias.
Nesse sentido, ele pontuou que tecnologias móveis anteriores ao 5G são mais eficientes para muitos casos de uso relacionados à conectividade de IoT.
“Infelizmente, temos um cacoete por muita tecnologia e pouca resolução de problema. Isso precisa mudar”, asseverou. “Trata-se da maturidade dos vendors [fornecedores], que precisam entender que não precisamos do 5G para fazer soluções que podem ser atendidas pelo 4G. Precisamos sair um pouco do hype [modismo] e buscar os outcomes [resultados]”, frisou.
Na visão de Paulo Spaccaquerche, presidente da Associação Brasileira de Internet das Coisas (Abinc), desenvolvedores e fabricantes precisam entender que, no fim das contas, o que importa para as empresas não é a tecnologia, mas como as soluções contribuem para os negócios. Além disso, apontou que IoT “permeia todos os segmentos de mercado e cada um tem um tipo de demanda”.
“É importante o ecossistema girar e funcionar entre quem oferta e quem demanda soluções. É preciso ter perspectiva de negócio. Se não trabalhar dessa forma, não acrescenta”, assinalou.