A indústria de celular vai disputar todas as frequências milimétricas, avisa Granryd, da GSMA

Muitos serviços previstos na 5G - como o de carros autônomos- precisarão de baixa latência, só possível nas frequências bem altas, ou milimétricas, que também são propícias para os serviços via satélite. A disputa por parte desse espectro vai ocorrer este ano na UIT.

Los Angeles* –  Espectro é o combustível, o coração, a alma do serviço de telefonia móvel. E não é sem razão que mais uma vez no Mobile World Congress (MWC)  o seu preço, condições de acesso e mesmo quem tem direito a ocupá-lo foi um dos principais temas dos três dias de debates. O evento, que se encerra hoje em Los Angeles, reuniu as principais operadoras e fabricantes de equipamentos dos Estados Unidos e de países aliados, reguladores norte-americanos e da América Latina. Mas fortaleceu também a ideia de que a disputa entre os blocos econômicos continua acirrada, pois não contou com um único fabricante da China.

E, quando se trata de lutar por mais espectro  para assegurar a oferta da miríade de serviços que a tecnologia 5G promete entregar, todos falam o mesmo idioma, ou seja, querem mais, precisam de muito, e querem que a frequência seja vendida a um preço razoável, para que as projeções de investimentos de US$ 350 bilhões que a tecnologia 5G vai demandar nos próximos anos, se concretize.

Esse posicionamento, fortalecido no evento,  será ainda mais forte na próxima conferência de radiofrequência da União Internacional de Telecomunicações (UIT), que irá ocorrer em novembro deste ano no Egito. Essa conferência aponta quais são as faixas que os diferentes serviços de telecomunicações – terrestres, satelitais, para navio, pago, livre, etc. – vão ter direito a ocupar no futuro. E a disputa promete ser boa.

Esse recado foi dado pelo diretor-geral da GSMA, Mats Granryd, um dos promotores do MWC, em conversa ao Tele.Síntese. ” Vamos ser muito presentes na disputa pelas ondas milimétricas(mmWave) , como as de 26 GHz, 40 GHz, 50 GHz  e 66 GHz”, avisa ele.

Várias dessas faixas são também desejadas pela indústria de satélite, que quer ter papel em igualdade de condições da tecnologia terrestre 5G. Mas Granryd tenta colocar panos quentes. “O satélite é complementar ao 5G pois irá fornecer o bakchaul em muitas situações”, para dar uma espetada nesse concorrente logo em seguida: “mas nunca conseguirá disputar com o preço do serviço  celular”

A disputa por esse espectro entre esses dois segmentos ocorre principalmente nos Estados Unidos e Europa. No Brasil, a Anatel já fechou a posição  que vai defender a destinação do espectro de 26 GHz para o celular. Mas há aqui uma outra disputa, que é pela faixa de 28 GHz, que a Anatel já destinou para o satélite, mas também é reivindicada por algumas empresas para a banda larga terrestres, como a Qualcomm.

Latência

Mas porque essas faixas,  que têm muito pouco alcance, são tão importantes? Por que são elas que vão garantir a imprescindível baixa latência para que os carros autônomos não batam em ninguém por falta de comunicação, ou para que um coração não deixe de ser transplantado por que a rede ficou fora do ar.

Mas se esse novo espectro passa a ser fundamental para a 5G, ele pode trazer  um outro problema, pondera Mike Murphy, CTO da Nokia for the Americas. O executivo alerta que essas faixas, por terem pouco alcance, poderão acabar ampliando a desigualdade digital – seja entre países, seja entre cidadãos do mesmo país – visto que elas serão usadas para a oferta de serviços 5G apenas nas grandes cidades. Para que esse risco ser minimizado, ele defende o desenvolvimento de padrões tecnológicos abertos, nos quais a Nokia se engaja.

Mas Granryd salienta que uma das vantagens da 5G, é que ela funciona em qualquer frequência, também nas mais baixas, de longo alcance, como as de 700 MHz, 2,3 GHz e 3,5 GHz. “Vale lembrar que há ainda muito a fazer com as tecnologias 3G e 4G, que continuarão a crescer”, lembrou ainda o executivo. Ele observa que em 2025, apenas 18% da população estará usando a 5G.

A jornalista viajou a convite do MWC

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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