Serviços digitais podem salvar as telcos, sugere Amos

O presidente da Telefônico Vivo disse que a adoção do novo modelo de negócios passa pelo entendimento de que uma operadora tem que ir muito além da conectividade, de oferecer serviço só de massa e que ela tem que usar seus dados analíticos para entender as necessidades dos clientes e oferecer serviços personalizados.

20161018_104941Ao se despedir do Brasil, Amos Genish, que deixa o cargo de CEO da Telefônica Vivo ao final de dezembro para se mudar para Londres após duas décadas na América Latina, deixou para um auditório lotado de executivo e especialistas uma mensagem de esperança. Em sua visão, após um período muito turbulento, é possível enxergar um novo modelo de negócios para as operadoras de telecom, que enfrentam a concorrência acirrada das empresas de internet, as chamadas Over the Top, e a queda da rentabilidade de seus negócios.

Em sua apresentação sobre a transformação digital das empresas de telecomunicações, ele mostrou que os serviços digitais são o caminho para um novo modelo de negócios consistente. “Não podemos mais ficar restritos à conectividade”, disse Amos. Apesar de a voz ainda representar 45% das receitas da operadora, ele disse que não vê possibilidade de, em cinco anos, uma operadora ainda faturar minutos de voz.

Se a receita de voz (e o tráfego de voz) vai continuar caindo, o tráfego de dados vai continuar ascendente. As projeções são de que ele continue crescendo 20% ao ano. “E o que mais cresce é vídeo”, lembrou Amos. Segundo ele, as operadoras têm que se aproveitar de terem em mãos de seus clientes a tela móvel. E oferecer serviços digitais para eles.

Gap digital

O enorme crescimento do tráfego de dados no Brasil, o fato de 82% dos usuários acessarem a internet todo o dia e outros indicadores sobre como o brasileiro adere às novas tecnologias não são suficientes para se contrapor a estatísticas que mostram que o gap digital ainda é uma realidade no país. A cobertura de 3G e 4G atinge apenas 70% da população, só 58% dos domicílios estão conectados contra 98% dos Estados Unidos, a velocidade média da banda larga no Brasil é baixa e 80% dos dados trafegam pelo WiFi.

Esse cenário, lembrou Amos, ocorre embora as operadoras tenham investido, nos últimos anos, 22% de sua receita contra 15% da média mundial. “E isso para uma rentabilidade que foi de 10,5% em 2007 e que caiu para 7% em 2015”, observou.

Medidas

Para vencer esse cenário adverso, ele disse que é preciso uma melhoria nos fatores externos. Na macroeconomia – “depois de dois anos muito duros, vejo sinais de melhora em 2017” –, na redução da carga tributária –“a cada hora uma surpresa, o apetite dos estados não tem fim” – , e mudança no marco regulatório.

Em relação aos fatores internos, mencionou a necessidade de as empresas buscarem novas fontes de receitas, melhorarem a eficiência dos custos e tornarem os investimentos mais efetivos.

No caso da Telefônica Vivo, disse que ela focou o investimento em conectividade em fibra e na cobertura 4G e 4,5G, com swicht off de tecnologias obsoletas, refarming de frequências, uso de ran sharing, e aumento de velocidades tanto na banda larga fixa quanto na móvel.

Tem investido no lançamento de serviços digitais fim a fim, de tal forma que o usuário não precise mais recorrer ao call center. Investiu pesadamente em Big Data e em nova organização do trabalho, de tal forma que os dados passaram a ser usados para pensar novos planos de acordo com o perfil de uso dos clientes, novas campanhas publicitárias, dando maior eficiência aos recursos aplicados, etc. Segundo Amos, o ganho de eficiência em campanha publicitária na mídia TV (aberta e paga) foi de 20% no exemplo citado.

Os serviços digitais lançados pela Telefônica Vivo já cobrem um amplo leque de entretenimento a serviços financeiros, de educação e saúde, a serviços de segurança, de vídeos e de streaming de música. E há novos lançamentos programados para novembro. Segundo Amos, a empresa já fatura R$ 1 bilhão/ano com esses serviços, que tendem a responder por uma fatia relevante da receita segundo suas expectativas.

 

 

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Lia Ribeiro Dias

Seu nome, trabalho e opiniões são referências no mercado editorial especializado e, principalmente, nos segmentos de informática e telecomunicações, nos quais desenvolve, há 28 anos, a sua atuação como jornalista.

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