5G: A joia da coroa pode ser a faixa de 700 MHz no leilão da Anatel

O espectro de 700 MHz que está disponível coincide com aquele que a Europa está destinando para a 5G, ampliando o ecossistema de uso.

A Anatel pretende colocar à venda em março do próximo ano três pedaços do espectro radioelétrico brasileiro: 20 MHz em 700 MHz; 100 MHz na faixa 2,3 GHz e 200 MHz em 3,5 GHz.

Inicialmente, a maior atenção do mercado é  a frequência de 3,5 GHz.  Essa faixa já está identificada em todo o globo como uma daquelas que vai receber a tecnologia 5G,  justificando o esforço que a agência brasileira está fazendo para também destiná-la ao celular.

O esforço da Anatel se traduz nos inúmeros  testes que estão sendo realizados para medir os riscos de interferência entre os serviços da 5G e o serviço que ocupa um pedaço dessa faixa, a TV aberta via satélite. O Brasil é  único caso no mundo a usar esse espectro para sinal de TV aberta, mesmo que via satélite.

A 3,5 GHz  é o pedaço de espectro com maior largura de banda a ser leiloado, e, por isso, à primeira  vista,  deverá ser a frequência mais disputada pelas grandes operadoras que querem usar a tecnologia de quinta geração,.

Mas, na avaliação de Wilson Cardoso, CSO da Nokia, a  frequência de 700 MHz – que hoje está sendo usada pelas operadoras de celular para a oferta da 4,5 G – é a que será a joia da coroa. Isso porque, explica, esse espectro que não foi vendido no último leilão da Anatel. coincide com a faixa de 700 MHz da Europa que está sendo destinada para a 5G. “Essa frequência, embora pequena,  ficará extremamente interessante, porque está limpa nacionalmente e coincide com a faixa europeia, o que significa que em 2020 haverá um grande ecossistema de uso de produtos, principalmente para aplicações industriais”, afirma.

Para ele, a frequência de 3,5 GHz, embora tenha uma boa largura de banda, não será larga o suficiente para abarcar todas as aplicações da 5G, principalmente aquelas que exigem baixa latência (ou o tempo que um pacote de dados leva para ir do servidor para o seu celular).

“Essa faixa é  TDD (Time Division Duplex), o que significa que latência abaixo de 4 segundos só conseguiria ser alcançada com pelo menos 400 MHz de banda”, afirma Cardoso.

Para Marcos Scheffer, vice-presidente de redes para a Ericsson Latam Sul, no entanto, embora a frequência de 3,5 GHz a ser vendida no Brasil tenha só 200 MHz de banda, ela será a mais importante para a 5G por que já está harmonizada globalmente. Além disso, ressaltou, serviços que demandarão mais baixas latências usarão as frequências milimétricas, que ainda não foram colocadas à venda pela Anatel.

Os dois executivos concordam, no entanto, que as operadoras brasileiras já dão passos na direção das novas soluções. “Um dos principais fatores de sucesso da 5G no Brasil é que a qualidade da 4G seja boa”, apontou Scheffer.

Modelagem

Mas para a 5G ser bem sucedida e chegar no país em 2021 ou 2022, ainda é necessário alterar o marco legal, com a aprovação do PLC 79 para destravar os investimentos ,e tributário, com a desoneração do chip IoT, assinala Hugo Baeta, diretor de operadoras da Cisco.

Já Cardoso defende que a Anatel reestude a forma como vende as frequências, passando a adotar o conceito de “microlicenciamento”. Ou seja, venda de espectro que fica em cima de uma única instalação fabril, por exemplo. “Os Estados Unidos estão fazendo assim. E isso pode dar um novo dinamismo ao mercado”, assinala.

Para Scheffer, o fundamental é que o leilão não tenha o viés arrecadatório, permitindo, assim, o avanço das novas redes e serviços no Brasil.

 

 

 

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Miriam Aquino

Jornalista há mais de 30 anos, é diretora da Momento Editorial e responsável pela sucursal de Brasília. Especializou-se nas áreas de telecomunicações e de Tecnologia da Informação, e tem ampla experiência no acompanhamento de políticas públicas e dos assuntos regulatórios.
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