O futuro está aí, mas não tem mão de obra qualificada para ele
Não há como pensar no futuro sem perceber que (ainda) não há mão de obra qualificada para ele. O problema dominou o debate “A transformação digital dos estados da Região Sul” na manhã desta segunda, 4, no Inovatic Sul.
Um a um, cada palestrante apresentou propostas para que o mercado supra sua necessidade de profissionais.
“Vamos apoiar o governo na formação de mais profissionais de tecnologia. Precisamos ter mais universidades, mais pessoas formadas nesse setor”, disse Maria Teresa Lima, Diretora-Executiva da Embratel para Governo.
Para Leandro Victorino de Moura, Diretor Presidente da Celepar, o ideal seria incentivar o curso técnico. “Ficamos muito tempo voltados aos cursos superiores tradicionais. Um movimento em prol do curso técnico vai gerar mão de obra rapidamente”, falou. José Luis de Souza, moderador do painel e presidente executivo da FITec, assinalou que a entidade que preside está firmando acordos com escolas de ensino médio na região onde a empresa tem sede (em Campinas), para incluir mais jovens no aprendizado da tecnologia, que tem grande demanda e urgência na contratação de profissionais.
Desafio
Mas a questão vai mais adiante. Para Moura, todo o processo é um grande desafio, porque vamos gerar mão de obra e o mercado exterior vai levar os profissionais, que é o que já acontece hoje.
“O home office facilitou ainda mais isso. Então não será fácil sair dessa crise de falta de profissionais. Creio que, mais que implantar tecnologia, precisamos de mão de obra”, afirmou o representante da Celepar.
“Mesmo o poder público acaba perdendo os talentos, tão aquecido que está o mercado”, completou Maria Teresa Lima.
Mais mulheres
“Precisamos provocar o poder público para estimular alunos nessas carreiras”, disse a representante da Embratel, que lembrou também que há poucas mulheres no setor, mesmo sendo um mercado promissor e de salários altos.
“Mulheres representam 60% dos alunos de todos os cursos, mas não nessas carreiras. O curioso é que há desemprego de um lado e falta da gente qualificada de outro”, falou a executiva.
A Assespro Paraná fez uma pesquisa e 73% das empresas afirmaram que querem contratar mais mulheres, conta Lucas De Paula Ribeiro, Diretor Presidente da entidade.
“A ideia é trazer as adolescentes para a tecnologia. Os pais influenciam os filhos para que partam para carreiras clássicas: engenharia, medicina. Mas tecnologia é um curso mais rápido e que permite ganhar dinheiro bem rápido também”, disse Ribeiro.
Receio
Segundo o diretor da Assespro Paraná, um dos problemas para a renovação – geral, no caso, não só feminina – é que há resistência para mudança nas empresas, pelo receio dos funcionários de perderem suas posições. Isso porque não falamos de recolocação responsável. Um exenplo: contadores faziam lançamentos de notas fiscais. Hoje os robôs fazem. Mas precisamos dos contadores para análises das NFs.”
A questão da falta de mão de obra qualificada preocupa a Assespro de tal forma que, no final de 2021, a federação soltou manifesto ao setor sobre o problema.
Parcerias
Todos os palestrantes apontam as parcerias como soluções ou alternativas para questões não só em torno de mão de obra, mas também para o crescimento de qualquer empresa.
Diego Brites Ramos, Vice-presidente de Relacionamento da Acate (Associação Catarinense de Tecnologia), conta que a entidade fomenta programas sociais “para que esse nosso ecossistema não seja uma bolha” e parcerias estratégicas com grandes players que tenham projetos de capacitação.
“Esse ecossistema precisa ser cada vez mais inclusivo”, disse. “Temos um grupo temático formado basicamente por mulheres para o incentivo ao empreendedorismo feminino, e um programa de incentivo a startups coordenadas por mulheres”, exemplificou.
Testes
Ramos sugeriu também que se tenha um maior índice de compra pública de inovação. “A lei já permite contratar testes. Você apresenta o problema e vai buscara solução”, falou.
“Pode contratar até 5 empresas, por cerca de R$ 1 milhão, e elas vão atrás da solução. Depois, contrata a que resolveu a que melhor resolveu o problema por R$ 8 milhões. A lei já existe. A dificuldade é divulgar e colocar em prática”, afirmou.
“Temos R$ 800 bilhões de reais em compras públicas gerais. Precisamos pegar um pedaço desse valor e comprar inovação”, falou Ramos.
“Mas precisamos de segurança para contratar. Tem startup que nem documentação correta tem”, disse Leandro Victorino de Moura, da Celepar.
De qualquer forma, concordou com Diego Ramos e ainda contou que a Celepar fechou parceria com uma aceleradora da PUC-PR para contratar startups.
“O ideal é não gastar dinheiro sem necessidade. Se tem pronto, se contrata. Se não está bem resolvido, aí, sim, desenvolvemos”, afirmou o executivo da Celepar.
José Antonio Costa Leal, Diretor Presidente da Procergs, concordou. “O governo repensa se continua reconstruindo ou se faz acordos com empresas e coloca o dinheiro em outra coisa, como o investimento em obter cientistas de dados para políticas públicas preventivas”, falou.
“É necessário cada vez mais se desenvolver utilizando aceleradoras. Tem que trabalhar com parcerias ou não trará soluções de forma acelerada à sociedade”. concluiu Leal.